O primeiro versículo indica que Moisés falou a todo o Israel. Esse Israel era a nova geração de israelitas. Os que saíram do Egito, com exceção de Josué e Calebe, tinham perecido por causa da desobediência; da incredulidade; da dureza de coração; de negar a soberania de Deus, experimentada desde a saída do terra dos faraós (Dt. 2.14-15; Nm. 14.35).
Moisés conhecia muito bem aquele povo. Já havia se passado 40 anos julgando suas causas. Moisés conhecia a Deus, o ser perfeito, e o coração corrupto do homem, sempre propenso ao pecado. Essa nova geração não deveria incorrer nos mesmos erros de seus pais. No capítulo 4 Moisés detalha exortações à obediência: de observar a lei, de não acrescentar ou diminuir nada do que fora dito (o mesmo princípio é observado em Ap. 22.18-19 e deve ser seguido à risca por nós). Ele invocou a lembrança do que foi visto no Monte Sinai; de se guardar dos ídolos.
- No deserto, defronte do mar de Sufe (Mar Vermelho) --> quando o povo queria voltar para o Egito (Ex. 14.10-12);
- Na Arabá (na planície) --> o pecado do povo com as midianitas (Nm. 25.1-5);
- Parã --> o informe dos exploradores que expiaram Canaã (Nm. 12.16 – 13.33);
- Tofel e Labã --> são palavras que se associam com o maná (Ex. 16.1-3);
- Hazerote --> a rebeldia de Corá (Nm. 16.1-3);
- Di-Zaabe --> o pecado do bezerro de ouro (Ex. 32.1-6);
A terra que mana leite e mel poderia ser alcançada nesse pequeníssimo espaço de tempo (jornada de onze dias), comparados aos anos de sofrimento no Egito e aos quarenta anos no deserto. Essa foi a segunda fez que Deus mudou a rota dos israelitas até à Terra Prometida. A primeira, logo na saída do Egito, a costeira ao mar Mediterrâneo, foi evitada por causa da ameaça que os Filisteus representavam ao povo vacilante e incrédulo.
Todos ficaram perambulando/peregrinando naquela terra seca, enquanto poderiam já estar desfrutando da excelente terra que dá cachos de uva tão grandes que eram necessários dois homens para carregá-los (Nm. 13.23). O povo partia quando a nuvem se levantava do tabernáculo (Nm. 9.15-23) ou quando a trombeta era tocada (Nm. 10.1-10). Foram cerca de 42 acampamentos até se apossarem de Canaã (Nm. 33.5-48). Deus os fez andar pelo deserto até que toda a geração desobediente perecesse, ou por morte natural, ou pela própria mão do Senhor (Nm. 14.21-23,29; Dt. 2.14-15).
A razão disso foi o relatório da maioria dos espias. Por causa da atenção que o povo deu aos vacilantes e não aos seus líderes, homens tementes a Deus. Deram ouvidos aos fracos de espírito. Mesmo mediante os pedidos veementes e emotivos de Moisés, Arão, Josué e Calebe, que também apelaram para a soberania de Deus, o povo só não os matou por causa da intervenção divina (Nm. 13.25 – 14.12).
Nesse momento, cabe uma pausa para reflexão: Há quanto tempo estamos no deserto por nossa causa, ou quantas vezes Deus não alterou nossa rota, por não termos dado ouvidos a Ele e ido segundo nossos desejos e interesses momentâneos? Quem sabe Deus tem nos sustentado com as “sandálias e roupas” que não se gastam, mas estamos amargando um longo tempo no duro deserto, até que nosso coração seja novamente amolecido pelo lançamento do martelo, que é a Sua Palavra. Ele, o martelo, amolece até a penha (rocha), entretanto, para isso acontecer, o impacto é enorme (Jr. 23.29)!
Moisés encontrava-se quarenta anos após a saída do Egito – trinta e oito anos de peregrinação no deserto e passados dois anos da conquista da Transjordânia. Ele sabe que não vai estar mais adiante do povo e passa a exortá-los sobre tudo que o Senhor lhe mandara a respeito deles, dando início às suas últimas instruções como mediador.
Depois que a geração incrédula se fora, Deus conduz Israel aos primeiros passos na conquista de Canaã, à direita do Rio Jordão, que é a Transjordânia, metendo o terror e o medo em todos os povos que ouviram a fama de Israel (Dt. 2.25). A confiança em Deus fez agora os israelitas conquistarem os gigantes que moravam na Terra Prometida, os mesmos temidos pelos espias incrédulos (a cama do rei Ogue tinha cerca de 4,5m – Dt. 3.11).
O profeta então passou a explicar esta lei com todo o cuidado e amor que devotava àquele povo. Para Moisés, era necessário revisar a história de Israel e ratificar a aliança do Soberano. E a história começa a ser narrada a partir do Monte Sinai, depois das novas tábuas da lei, da construção do tabernáculo (o lugar oficial de adoração a Deus), quando Deus lhes ordena sair para possuir a “Terra”, prometida a Abraão, Isaque e Jacó.
Dt. 1.9 – Dt. 3.29
A partir do versículo 9, de Deuteronômio capítulo 1, continua o detalhamento do histórico: Passa pela chegada a Cades Barnéia; o relatório dos espias; do castigo de Deus; da derrota do povo que insistiu em lutar pela terra depois da desaprovação de Deus; da resumida jornada de Cades até Zerede, onde se passaram 38 anos; a vitória sobre Seom e Ogue; a súplica de Moisés para adentrar em Canaã e a nomeação de Josué – onde chegamos no final do capítulo 3.
Os primeiros quarenta versículos do capítulo 4 são dedicados a exortações detalhadas. Quais sejam:
- Para que não acrescentem nem tirem o que lhes foi ensinado. Para que não esqueçam do que viram; das maravilhas operadas no meio do arraial às quais jamais foram vistas em outro lugar; de como a desobediência foi tratada por Deus; dos justos estatutos e juízos que há na lei. Para que não se inclinem diante de obras feitas por mãos humanas ou a própria natureza.
- Quando envelhecerem, caso se esqueçam de Deus provocando-o à ira, Deus não os poupará, espalhando-os entre as nações. Entretanto, nunca irá desamparar seu povo, nem se esquecerá da Sua aliança;
- Invocando a história como testemunha, enfoca que jamais se viu coisa como esta que Deus operou entre Israel; e, finalmente, exorta a guardar os mandamentos para que a existência do povo e suas famílias sejam duradouras e abençoadas.
Considerações Finais
Diante do exposto, convoco os leitores cristãos a olharem interiormente para suas vidas, num rápido retrospecto, e lembrarem de quando Deus nos resgatou. De quantas bênçãos Ele derramou sobre nós. Dos livramentos.
Mais ainda: de como vivíamos nas trevas, sem rumo, separados de Deus. Ou não nos lembramos mais disso? Será que alguns de nós por ter tido o privilégio de estar o tempo todo na Igreja, desde criancinha, não se lembra de quando éramos ímpios?
Assim, como Moisés fez com Israel, peço aos irmãos e irmãs que, atentando para o que já aprendemos, para Sua Lei, por tudo o que Deus fez e tem feito por nós, nos esforcemos para obedece-lo e assim gozarmos de suas bênçãos destinadas a nós e a todos que compõem a família de Deus.
Amém!